A tortura psicológica é uma forma de violência extremamente brutal. Ela destrói a autoestima, a autoconfiança e o amor-próprio através de atitudes que aparentam ser inofensivas. A pessoa que sofre com os ataques dificilmente os reconhece como uma ameaça à saúde mental.
Em primeiro lugar, é importante mencionar que não existe um perfil de agressor deste tipo de violência. Há pessoas que agridem psicologicamente um outro alguém e, ainda sim, são ótimos filhos, amigos ou mesmo companhias.
Do mesmo modo, também não há um perfil traçado para ser vítima deste tipo de violência, afinal, ela independe de tipo ou condição da pessoa. O fato é que, diferente da violência física, a tortura psicológica é dificilmente identifica pelo individuo que sofre com ela.
Nesse sentido, é possível observar que as pessoas estão acostumadas a associar a violência apenas aos chutes, tapas e socos, e não de um modo estritamente psicológico. Por isso, é fundamental ficar atento aos sinais da tortura psicológica.
Mas, afinal, o que é tortura psicológica?
A tortura psicológica consiste em um conjunto de agressões sistemáticas ao fator psicológico das vítimas. Trata-se de uma forma de violência que tem como objetivo causar sofrimento sem usar o contato físico para intimidar, manipular ou punir.
Infelizmente, os estudos sobre tortura psicológica ainda são escassos no Brasil. No entanto, se tomarmos como base as pesquisas da Organização das Nações Unidas (1987), tortura, seja física ou psicológica, é todo ato com a intenção de causar sofrimento intencionalmente.
A descrição da ONU tem relação com a violência psicológica praticada em guerras e sequestros. Entretanto, é possível associá-la aos relacionamentos interpessoais, visto que o agressor psicológico sempre alcança um objetivo oculto relacionado a vítima.
É possível observar casos de que os agressores não têm consciência de que seus atos representam uma forma de violência; todavia, percebem que suas ações não fazem bem à vítima e escolhem, do mesmo modo, gerar sofrimento emocional ao indivíduo.
Tortura psicológica é crime?
A Lei 9.455/97 diz que o crime de tortura não se trata somente de abusos físicos, mas também engloba situações que resultam em sofrimento emocional e psicológico. Contudo, para configurar crime, é preciso que sejam identificadas uma das seguintes situações:
tortura com o objetivo de incitar alguém a prestar informações ou declarações pessoais de terceiros;
tortura para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
tortura em razão de discriminação religiosa ou racial.
Além disso, caso uma das situações citadas acima não tenha correspondência à acusação de tortura psicológica, as ações violentas podem configurar outros tipos de crime, tais como constrangimento ilegal ou ameaça.
Como identificar a tortura psicológica?
A identificação deste tipo de agressão é um passo extremamente desafiador, afinal, os atos violentos são sutis e imperceptíveis. Normalmente, são disfarçados de comentários maldosos ou indiretos, sendo estes ditos com frequência pelo agressor. A vítima, confusa com a situação, não sabe como reagir a eles.
Entretanto, o maior problema da tortura psicológica é que, geralmente, o agressor possui algum laço emocional com a vítima. Não raro as ações são cometidas por parceiros, chefes, amigos, familiares e outras pessoas presentes no círculo social da vítima
Justamente pela construção de um laço emocional, quem sofre a agressão precisa de tempo para assimilar que o comportamento do agressor é um sinal de violência. É comum que a vítima pense: ‘’Será que tal pessoa realmente foi capaz de fazer isso comigo?’’.
Por outro lado, há casos em que as agressões não são nada sutis. Nesses casos, todos ao redor da vítima conseguem identificar as intenções pouco inocentes do agressor, tentando até mesmo alertar a pessoa que sofre com a tortura psicológica sobre o impacto de determinados comentários ou situações.
Quais são os sinais da tortura psicológica?
Para identificar os sinais da tortura psicológica, é de suma importância ficar atento ao comportamento, ações do agressor e, principalmente, as justificativas utilizadas para isentá-lo da culpa. Confira abaixo os principais tipos de agressão psicológica:
1. Humilhações públicas e privadas
O agressor humilha a vítima por meio de comentários que, a princípio, soam mais como sinceridade do que ofensa. ‘’Você não sabe fazer tal coisa, não é?’’ aos poucos se transformam em ‘’Você não é muito inteligente, né? para, enfim, ‘’Não faça. Você é burro’’.
O fato é que a saúde mental da pessoa que sofre com essas condutas é nutrida diariamente por pensamentos ruins e baixa autoestima. Vale ressaltar que as humilhações podem acontecer tanto no âmbito público quanto no ambiente privado.
Além do mais, o agressor consegue afetar tanto o emocional e o psicológico da vítima pois, de uma maneira geral, ataca os pontos fragilizados da mesma, feriado-aonde dói mais.
2. Chantagem emocional
A chantagem emocional é um meio muito utilizado durante a tortura psicológica. Ela consiste em ações manipuladoras para inverter a culpa de uma situação ou obter algo da vítima, seja um recurso financeiro, físico ou emocional.
Trata-se, também, de um método de manipulação que não costuma ser observado, uma vez que vem acompanhado de frases carinhosas e atos de afeto. Todavia, é tão prejudicial quanto as outras formas de abuso.
3. Perseguição sistemática e contínua
Existem agressores que perseguem a vítima até conseguirem o que desejam. Humilhar, xingar e constranger a vítima em público são aspectos que os levam a um processo de alimentação de ego, promovendo sua própria autoestima.
Desse modo, o agressor pode perseguir a vítima de forma sistemática apenas para obter o sentimento de superioridade em relação a determinada situação. Geralmente, ele faz comentários hostis e ridiculariza a imagem da vítima na frente de familiares e amigos.
4. Distorção da realidade
Outro sinal muito comum do abuso psicológico é distorcer a palavra da vítima para que ela crie uma outra concepção de realidade. Esse método a estimula duvidar da sua própria capacidade racional e acreditar nas palavras do agressor.
É importante ressaltar que as palavras da vítima também são distorcidas para quem estiver ao redor. Com isso, a palavra do agressor se consolida em uma posição de verdade, tornando-se, de certo modo, uma verdade absoluta.
5. Ridicularização
O agressor jamais deixará algo passar. Ele ou ela critica a personalidade, o modo de falar, as opiniões, as crenças religiosas e até mesmo os familiares da vítima, manifestando comentários que a deixam desconfortável consigo mesma.
6. Limitação da liberdade de expressão
A vítima não pode expressar suas opiniões deliberadamente porque o agressor as considera ‘’impróprias ou ‘’burras demais’’. Ela pode, inclusive, ser ridicularizada quando pratica a sua religião ou costumes da região onde cresceu.
Com o passar do tempo, a vítima perde a sua personalidade e deixa de fazer coisas que a fazem bem pois não possui permissão para seguir suas próprias convicções.
7. Isolamento
Com o intuito de elevar a eficácia de suas táticas manipuladoras, quem pratica a violência psicológica isola a vítima de outras pessoas. Essa última, por sua vez, para de conviver com seus amigos, familiares e até mesmo paralisar as conversas com colegas de trabalho.
O isolamento pode acontecer de três formas: difamação da vítima para outros indivíduos, distanciamento social quando ela passa a viver no ambiente que o agressor e, como citado acima, limitação de liberdade de expressão.
Como o emocional da vítima pode ser afetado?
Qualquer forma de violência, inclusive a física, gera consequências inimagináveis à saúde mental de quem sofre com elas. No entanto, como a tortura psicológica visa desestabilizar o emocional do indivíduo, logo, suas consequências são mais acentuadas.
Por conta das humilhações frequentes a vítima passa a duvidar das suas capacidades, competências e habilidades profissionais e pessoais. Ela começa a pensar ‘’Será que realmente mereço passar por isso?’’ ‘’Será que realmente sou capaz?’’
A vítima passa a enfrentar pensamentos autodepreciativos e, por consequência, desgostar de si mesma. Porém, esse é justamente o intuito do agressor: humilhá-la a vítima, de modo que quando sua autoestima estiver baixa, caia em suas armadilhas.
Além disso, a pessoa que sofre com tortura psicológica pode desenvolver doenças como depressão, ansiedade, síndrome do pânico, estresse pós-traumático, entre outros. Há outros aspectos em que o psicológico da vítima pode ser afetado. São eles:
sentimento constante de infelicidade;
paranoia;
medo excessivo;
esgotamento psicológico e emocional;
comportamento defensivo;
falta de confiança;
dificuldade para se expressar;
isolamento social;
crise de choro;
conduta retraída;
irritabilidade;
insônia.
Como superar a tortura psicológica?
O primeiro passo é manter distância do agressor. Quando o cônjuge ou alguém que reside na mesma casa é o abusador, o distanciamento pode ser complicado. Portanto, peça ajuda de alguém confiável ou se afaste quando a pessoa adentrar o cômodo.
Esse período de afastamento vai ajudá-lo a pensar com clareza, sem a influência do agressor ou de terceiros.
Em seguida, procure curar as feridas emocionais através de sessões de terapia, passeios com os amigos e conversas com a família. Opte sempre por pessoas que conheçam a situação e saibam que você merece, sim, ser feliz!
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